As tuas tímidas cinturas

As tuas cinturas, timidamente expostas,

demandam uma atenção que me

faz imaginar em como seria tê-las

envolvidas pelos meus braços.

Eles permitiriam que a aproximação

do teu corpo no meu resultaria não somente

no entrelaço das minhas extensões nas tuas,

mas também no encontro afável e palpável

do conforto que elas me trazem.

Teus lábios eram

o açúcar que adocicavam

a amargura do café que

era a minha vida.

 

Tu vieste exímia e formidavelmente a plantar

e a regar flores em mim, e partiste.

Permanece ainda o caule de uma delas

cravado em minhas pernas que

anseia desesperadamente ser regado

por um beijo teu.

Em lembrança do que já fomos

25 de julho de 2014

Creio que você ainda não faz ideia de como a ocorrência dos fatos que se procederam em nossas vidas tem feito com que nasça em mim sentimentos nunca despertados antes. Se eu o culpo por isso? Não, mas o culpo por ter me dado o prazer de sentir este amor tão vasto e puro que sinto por você. Especialmente por me permitir fazer parte de um momento de transição da sua vida nada fácil; para nenhum adolescente é fácil, para falar a verdade. Desde o momento em que o nosso relacionamento tornou-se algo mais sério, eu aprendi muito. Você acha que não, mas realmente tive muito aprendizado. As coisas mínimas que você me ensinou, mesmo que indiretamente, fazem de mim hoje uma pessoa muito melhor; mais sensível, mais compreensiva e menos compulsiva. Piegas à parte, digo com toda a sinceridade do mundo que você é uma das pessoas mais preciosas da minha vida, que não me vejo sem você e que o nosso relacionamento é algo do qual não abro mão de jeito nenhum, não mesmo. Obrigada por me deixar ser a culpada de fazê-lo sentir-se bem e por deixar-me juntar os pedaços de seu coração quando o quebro. Você é maravilhoso, com todas as letras. Eu o amo infinitamente.

[Originalmente postado com o título de “Vagalumes Cegos”].

Para Gregory com amor

Querido Gregory,

Eu não sabia que poderia chegar até aqui antes que este dia de fato chegasse. Daqui a três horas, vou começar a me preparar para a cerimônia do meu casamento, deste evento tão importante da minha vida e que eu gostaria tanto que você realmente estivesse aqui porque, você sabe, era você quem iria me levar ao altar; quando eu fiz 15 anos, foi você quem disse que ia me levar ao altar. Sem saber realmente o porquê, decidi lhe escrever esta carta que você nunca vai ler.

Já se passaram 7 anos desde que você foi embora, desde que você se trancou no porão lá de casa, onde ninguém mais tem coragem de entrar desde então, e onde você fez o que achou que fosse melhor para você e para todas as pessoas envolvidas na sua vida, mas a questão é que não foi a melhor coisa. Por acidente, eu achei o último bilhete que você escreveu e nele continham as palavras mais tocantes que eu já li em toda a minha vida. Eu o guardei e o li tantas vezes que acabei decorando-o. Você era um artista, Greg. Eu, mamãe e o Felipe sabíamos disso, e cara, como eu queria que você tivesse enxergado isso a tempo.

Mamãe, papai e Felipe foram quem encontraram o seu corpo, chamaram a ambulância e o acompanharam até o hospital. Eu simplesmente me recusei a ir porque não queria acreditar que aquilo fosse verdade, e às vezes parece que a ficha nunca vai cair. Acho que só vou me dar realmente conta de que isso aconteceu quando eu estiver sendo guiada até o altar, mas sem você do meu lado, segurando o meu braço e sorrindo para mim.

Desde que você se foi, tudo lá em casa mudou. As coisas simplesmente caíram por água abaixo. Papai se tornou mais abusivo e mais distante do que nunca, o que eu acredito que foram umas das razões pelas quais você se foi. Ele não enxergava o seu potencial, eu sei. Ele nunca colocou um pouco de fé em nenhum de nós três. Mamãe me disse há uns meses que ela saía de casa no meio da noite para chorar, porque ela sentia muito a sua falta e não queria chorar na nossa frente, embora às vezes ela simplesmente não conseguia controlar e chorava mesmo assim.  A nossa cachorrinha na época, a Pipoca, não saía do seu quarto por nada. Ela dormia em cima da sua cama e em cima das suas pastas cheias de desenhos e poesias que você deixava na sua escrivaninha, esperando que você chegasse em casa e a levasse para passear. Posso dizer com toda a certeza de que ela conseguia sentir que tinha algo de errado.

O Felipe agora tem 24 anos, e ele nunca superou; acho que está longe de superar. Nosso pequeno continuou estudando na escola em que nós dois nos formamos no ensino médio, mas quase não conseguiu se formar e nem tentou entrar para uma universidade. Os colegas e professores dele o olhavam estranho nos corredores. Ele nunca teve uma namorada de verdade, nunca aprendeu a dirigir, nunca sentiu aquela vontade que você o encorajava a ter de conhecer o mundo e explorar a vida, e obter nossas experiências. O papai não era o herói dele, nunca foi. O herói dele, Greg, era você, mas quando você se foi, parece que tudo nele instantaneamente se esvaneceu também.

Quanto a mim, eu consegui continuar estudando na universidade em que nós dois estudávamos e me formei. Foi muito duro e árduo, mas consegui. Queria tentar viver o que você viveu naqueles corredores, naquelas salas de aula e na biblioteca. Li todos os livros que você mantinha em seu quarto e tentei sentir tudo o que você sentia ou pensava ao lê-os. Durante esse tempo na universidade, acabei desenvolvendo gastrite nervosa e fiquei viciada nos remédios que tomava para depressão e ataques de pânico. Eu realmente senti as consequências que ficam quando alguém tão importante na vida de uma pessoa vai embora. Todos na nossa família sentiram. E Greg, eu só estou falando das consequências porque eu as vivi, nunca que eu vou poder falar sobre as coisas que você viveu e sentiu e que o levaram a fazer o que fez, entende?

Há quatro anos, quando ainda éramos somente o papai, a mamãe, o Felipe e eu, era bem desconfortável e doloroso pedir uma mesa para quatro e não para cinco quando saíamos para jantar, e também era bem doloroso trazer a mamãe para o meu trabalho no dia do seu aniversário para me certificar de que ela estava comendo. Agora são sete anos desde o ocorrido e eu ainda olho para a porta do banheiro esperando que você a abra sem bater. Ainda encontramos na rua pessoas que o conheciam e temos que explicar o que houve. Você perdeu 7 aniversários meus. Eu não sou a pessoa que você conhecia quando foi embora e certamente não sou a mesma depois do ocorrido. Tudo teria sido tão diferente se você estivesse aqui… Enfim, tento manter vivo tudo o que você me ensinou e tudo de bom que restou de mim. Obrigada por tudo o que você fez enquanto estava aqui.

O amarei para sempre.

Com amor,

Catarina.

[Livremente inspirado em um relato real das consequências que ficam quando alguém se suicida].